“É preciso usar a Internet em prol da nossa cultura”. Veja como foi o 3o dia do Encontro do Programa Mensagens da Terra

O terceiro dia do I Encontro do Programa Mensagens da Terra começou com os rituais indígenas de abertura, unindo todos os povos em uma só roda, onde se canta e dança ao som de toantes, torés e porancys de cada uma das comunidades.

Em seguida, mais uma vez questões sobre a situação indígena atual foi debatida entre todos. “Cada vez que a gente se junta novos problemas aparecem”, comentou Joel Pataxó, ao identificar quantas situações de desrespeito e violência os parentes de outras etnias presenciaram.

“Não tem um olhar e nem uma política para fiscalizar e acompanhar a causa indígena”, disse Fernando Pankararu.

O causa Tupinambá também foi destacada. “A política ao invés de dar apoio aos indígenas dá apoio aos grileiros”, comenta Mayá Hãhãhãe. O agronegócio e sua consequente degradação dos territórios tradicionais foi um dos assuntos discutidos.

Depois dessa rodada, Cristiano Passos, da Secretaria de Inclusão Digital do Ministério das Comunicações, apresentou o trabalho de apropriação de tecnologias dentro dos Pontos de Cultura e comentou sobre a possibilidade de utilizá-los como um instrumento de voz.

Cristiano também quis compreender qual a estrutura que existe hoje dentro dos Pontos e aquilo que os povos precisam.

Outras tecnologias sociais que surgiram com a existência dos Pontos de Cultura também foram comentadas, como a Rede Índios Online. As jovens Karapotó-Plakiô comentaram sobre como depois de algumas denúncias feitas na rede, a prefeitura da cidade em que a aldeia está localizada passou a dar mais atenção para as demandas da comunidade. “Índios Online é nosso porta voz”, comentaram. Além disso, Joana Tavares, jornalista coordenadora do Projeto Pelas Mulheres Indígenas, desenvolvido pela Thydêwá e conta com o apoio da Secretaria de Políticas das Mulheres da Presidência da República, comentou sua dissertação de mestrado sobre Índios Online: “Observei que a rede era uma forma de fortalecimento e divulgação da cultura indígena, uma forma de projetá-la para o mundo”.

Acerca do uso das tecnologias e dos espaços oferecidos pelo Programa, Potyra Tê Tupinambá enfatiza o que já vem sendo discutido durante todos os dias: “É preciso usar a Internet de forma consciente, para que ela não seja apenas uma ferramenta de brincadeira, mas um instrumento em prol da nossa cultura”, argumentou.

Outros projetos que contam com a mobilização e articulação dos participantes e das tecnologias digitais, como Índio Educa, Oca Digital, Pelas Mulheres Indígenas e RISADA, foram comentados.

Foi interessante perceber o desenvolvimento dos indígenas e da Thydêwá alinhado ao desenvolvimento das tecnologias. “Tínhamos projetos há 12 anos atrás que eram realizados com fitas cassetes, hoje estamos trabalhando com a apropriação dos Tablets”, comentou Sebastian Gerlic, presidente da ONG.

“Pontos de Cultura não são $yber Café ou uma Lan House, onde o tempo e a comunicação são colocados como mercadorias, orientadas pelo individualismo”, ressaltou Sebastian, mostrando dois banners pendurados na parede da Thydêwá que tratavam a respeito disso.

Após o almoço o grupo foi dividido em dois, enquanto um participante de cada etnia participava de uma oficina de apropriação tecnológica, outro cuidava da parte burocrática da implantação de um Ponto de Cultura dentro de suas aldeias, junto a Cristiano Passos e equipe da Thydêwá.

Na oficina de apropriação, ministrada por Magno Tupinambá, alguns indígenas instalaram a distribuição do Junta Dados nos computadores, enquanto outros se debruçavam em conhecer as ferramentas que iriam trabalhar. O funcionamento das máquinas, do projetor e das câmeras digitais adquiridas para cada um dos Pontos foi apresentado, além de uma imersão nos potenciais que a distribuição instalada nos computadores oferece.

Após isso, todos reunidos voltaram a discutir sobre a importância da atuação do conselho gestor de cada Ponto e aproveitaram para construir em conjunto os termos de uso dos equipamentos, o que aconteceria caso algum fosse roubado, como serão entregues os relatórios de atividades, entre outras questões importantes de gestão.