II Dia do Encontro com Jovens Indígenas em beleza, força e imaginação

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Começamos com um toré animado. Os jovens de diversas etnias à frente, puxando as  músicas, liderando o ritmo, ecoando o coro, mostrando sua forma de viver e sentir a tradição. Todos suam, mas mais uma roda gira, mais uma voz ecoa e outras respondem. Seguimos à frente. Energia, força e beleza são as palavras que abrem a reflexão sobre o primeiro dia do encontro.

Falamos da força juvenil, dos jovens se ajudarem, se contagiarem com a força, com o ânimo para seguir na luta, para viver a tradição, para expressar sua voz. Falamos de trocas – os jovens do Nordeste irem ao Norte para partilhar essa longa história de sobrevivência a uma colonização que começou aqui há 514 anos. Agora ela chega mais intensamente nos povos da Amazônia, com a terceira maior hidrelétrica do mundo – a Belo Monte. O que será dos jovens Xikrin, de Marabá? E das mais 8 civilizações indígenas que serão afetadas, talvez dizimadas, aos poucos, com o empreendimento? Seja pela mudança do habitat, seja pela chegada do estrangeiro, seja pelas doenças. Talvez os jovens do Nordeste pudessem ajudá-los? Partilhar com eles sua força e resistência, seu relato de viverem, já neste presente, o futuro que talvez aguarda esses outros jovens.

“Quando vocês dançam, eu percebo que vocês têm um laço vivo com a terra, com o mar, com o fogo. Que o mundo já perdeu. Eu estou vivo porque eu tenho uma raiz, uma cultura viva”, reflete Dan Baron, arte-educador, sobre as atividades do dia anterior e a força do Toré de hoje.

Começamos movendo o corpo. Alongando, em roda, em grupo, em coletivo. E expressamos nosso maior sonho. Pode ser aquele guardado, aquele que pensamos ser impossível de realizar. E dançamos ele em dois gestos. Surge assim uma coreografia sincrônica e diversa, onde cada um mostra para o outro seu sonho e onde todos dançam juntos o sonho de todos.

A própria intimidade, subjetividade é a fonte para a história. “A dança transforma, tem o poder de criar uma comunidade de confiança”, explica Dan.

Depois do almoço, andamos pela cidade, pela praia, olhando para o chão, para os cantos, para o horizonte com um olhar diferente. Buscamos ali um objeto, algo extraordiário. Todos voltam com algo na mão, mesmo que seja um objeto cotidiano, uma pedra, um recife, uma planta, recebendo um olhar diferente – visto em sua dimensão extraordinária, em sua riqueza.

O encontro da tarde começa com o toque suave, o cuidado, através da massagem. Re-conhecemos e reencontramos o corpo do outro através da massagem. Depois mostramos nossos objetos. “Qual a força invisível que este objeto tem?”

Um pé de uma sandália havaiana de uma criança carrega a força de sustentar uma criança que pisa ali. A semente traz a força da cura e da vida. A pedra, a força do oceano e das ondas que a poliu. E, assim, seguimos usando a imaginação. Todos objetos juntos agora estão no nosso altar. Cada um e todos juntos com seu poder, sua história invisível.

Falamos de um objeto pessoal nosso também, que tenha um valor especial para nós. Mais uma vez surgem história, narrativas falando sobre o invisível, sobre nós mesmos, sobre o que faz parte de nossa vida, com o impulso e a dança da imaginação.

* O projeto tem o apoio do Fundo Internacional para a Diversidade Cultural (IFCD) da Convenção de 2005 sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais da UNESCO. A inciativa conta também com o apoiodo PONTÃO ESPERANÇA DA TERRA e com a Rede de Pontos Indígenas do Nordeste, ambos projetos da Thydêwá em parceria com a Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.

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I Dia do Encontro de Jovens Indígenas: juntos criando livros digitais

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Dezesseis jovens não sabiam muito bem o que aguardavam eles quando se encontraram hoje, às 8h da sede da Thydêwá. Construir um coletivo é sempre algo surpreendente. Não se sabe no que resulta quando pessoas se reúnem com suas peculiaridades para criar. A ideia é que no final de um ano tenhamos dois livros digitais e uma produtora colaborativa. Como vamos construir isso? Juntos descobriremos.

O dia iniciou com um ritual indígena – cantos e maracás, pedido às bençãos de Tupã para o encontro e para todos os parentes. Uma roda de aprensentações, para cada um falar um pouquinho sobre si mesmo, de onde veio, de sua tribo. Dan Baron, arte educador, dá seguimento – propõe dedicarmos esses dias à troca, formação e produção.

A ideia para os próximos dias é compreender através de práticas corporais a beleza, a diversidade e o valor de cada um. Fazemos duplas, fazemos grupos. Começamos com uma dança. Abrindo o coração, agradecendo ao sol, arando a terra, plantando a semente. Colhendo e compartilhando com o próximo. Formamos um losango, ou uma pipa como foi chamado carinhosamente, e ela gira e cada instante um do grupo está na liderança. A música toca o tambor. Todos se mexem e todos sorriem. Quase todos transpiram na Oca Aberta, sob teto de piaçava, com o pé descalço na terra escura.

Antes do almoço fazemos estátuas. O tema? “Qual o direito humano você quer que seja respeitado aqui neste espaço, neste encontro?” União, liberdade, solidariedade, direito de interagir, de ficar em silêncio, de ajudar e ser ajudado, de atender às necessidades físicas, à compreensão – falar e escutar.

“Estamos perdendo aqui 514 anos de vergonha. Diante da força maior das armas, tivemos que baixar os olhos. A timidez é a força da resistência quando não se pode vencer. É uma inteligência naquele momento. Agora, podemos nos livrar dessa vergonha e resgatar nossa força”, reflete Dan sobre os sorrisos da alegria que vão surgindo com a dança.

Saimos para o almoço com a missão de fazer fotos e sons. À tarde, a brincadeira é com as imagens. Mas é uma brincadeira séria – imagens que registram dor, exploração, resistência, luta. Mulheres banham-se no Rio Tocatins, que está sendo afetado pela barragem Belo Monte, e em breve não estará mais lá como está. “Se nós não lutarmos hoje, o amanhã já estará perdido”, observa Waldirlan Pataxó. Fica a mensagem para pensar.

À noite, ao redor da fogueira, cantamos mais algumas canções para abençoar os dias que virão e formamos uma roda de contação de histórias multiétnicas, misturando gerações, vendo com graça e beleza surgir a união das forças dos jovens antenados com os anciões guardiões das memórias tradicionais.

* O projeto tem o apoio do Fundo Internacional para a Diversidade Cultural (IFCD) da Convenção de 2005 sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais da UNESCO. A inciativa conta também com o apoiodo PONTÃO ESPERANÇA DA TERRA e com a Rede de Pontos Indígenas do Nordeste, ambos projetos da Thydêwá em parceria com a Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.

 

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