Este ciberespaço quer compartilhar partes do processo de “revitalização” da língua dos indígenas Kariri-Xocó.

Registrado como José Nunes de Oliveira, o indígena Kariri-Xocó “Nhenety” atua como guardião da memoria do povo e como um “mantenedor” das tradições indígenas. Nos últimos 30 anos (a partir de 1984), começou a se dedicar a pesquisa da história, a coletânea de palavras e sua recriação, o ensino-aprendizagem da língua de seu povo tem sido uma das suas prioridades.

Bibliografia: em 1984 Nhenety adquiriu informações orais a partir de Sr. Manuel Iraminon, índio da etnia Xocó, que contou histórias dos seus antepassados e recebeu dele apenas 2 folhas contendo vocabulários de 128 palavras que Sr. Manuel coletou e compartilhou com o Pajé Francisco Queiroz Suíra (pai do atual Pajé Júlio Queiroz Suíra) e a bisavó de Nhenety, Maria Tomazia, identificada pelo antropólogo Carlos Estevão[1], em 1935, como descendentes dos Natu; Nhenety constatou a veracidade das informações do ancião em Línguas Tapuias Desconhecidas do Nordeste, pág. 13-14, vocabulários Natu e Chocó[2];

1985- NHENETY em companhia do cacique Juarez de Souza, Cacique Itapó, na luta do reconhecimento do Povo Karapotó, viajando para Brasília, encontra o sertanista Cícero Cavalcante de Albuquerque. Primeiro chefe do antigo Posto Indígena “Padre Alfredo Damaso”, do período do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) que trabalhou na Aldeia do Porto Real do Colégio, na década de 1940, no qual reconheceu o cacique Itabpó. Dialogando com o cacique, o sertanista perguntou: “quem é este rapaz”? Itapó respondeu: “José Nunes de Oliveira, Nhenety KX, muito dedicado na sua comunidade, tem vontade de conhecer os documentos do seu povo, sobre sua língua e tem muita dificuldade de encontrar documentos desta natureza. Cavalcante respondeu que a FUNAI possuía os acervos no Museu do Índio, do qual ele disponibilizou duas cópias do vocabulário dos Cariri do Nordeste de Siqueira Batista[3], das páginas 270-334, contendo três vocabulários Kariri: Dzubukuá, Kipeá e Português/Kariri. Com isto, aumentou o conhecimento deste contexto linguístico que fazia parte os Kariri-Xocó.

Após 1986, começou o trabalho de tradução dos cantos de Toré, embora de maneira informal, do Português para a língua Kariri.

Retornando à Aldeia Kariri-Xocó, Nhenety teve material para sua fundamentação teórica, na pesquisa da língua. Nesta época os cantos de Toré só eram cantados em português, com exceção do uso de algumas palavras da língua nativa. Isto se deu pelo silenciamento que ocorreu com esta comunidade indígena, no processo de aldeamento, entre os séculos XVII e XVIII, através dos Jesuítas com seu projeto de missão catequética, no Baixo São Francisco.

Assim, em 1989, Nhenety começou a formar os grupos de cantos de Toré, na Língua Nativa Kariri-Xocó, para apresentação em público, com gravação de uma fita k-7 para registro dos 20 cantos traduzidos.

A partir de 1999, foi feita uma parceria da Aldeia Kariri-Xocó com o Colégio Social de Portão, situado no Município de Lauro de Freitas, Bahia, através da diretora Débora Fontes de Siqueira, juntamente com Nhenety implementou o Projeto Pedagógico Pajé Francisco Queiroz Suíra que funcionou como uma “sala anexa” na aldeia, com 148 alunos do antigo sistema de educação, primeiro e segundo grau, Aceleração III era assim chamado. Assim foi introduzida a língua nativa no conteúdo programado. Este curso funcionou até 2005.

Em 2006, através do Projeto Arco Digital, Nhenety começou a reportar informações da aldeia, sobre a cultura, a história, meio-ambiente e principalmente sobre a língua, sendo transcritos 36 cantos de Toré  e mais de 30 cantos de Rojão para preservar a memória e tradições do Povo Kariri-Xocó e assim facilitar a veiculação do nosso sistema linguístico (Acesse https://www.indiosonline.net/). Após três anos, 2009, foi criado o blog: http://kxnhenety.blogspot.com/ , no qual foi reeditado e aperfeiçoados os textos do Cantos de Toré, nas línguas Português/Kariri, ampliando assim este material que serve como fonte de pesquisa interna e externa a aldeia.

 A elaboração destas páginas digitais conta com a contribuição especial de Nhenety e de Indiane e  Kawrã, ambos indígenas Kariri-Xocó, que investem atualmente suas vidas ao ensino da língua. Conta também com o grupo “Soyré” (Acessar Canal Youtube NHENETY), sob coordenação de Nhenety KX que se dedica a fortalecer a língua através da produção de cantos de Toré. A iniciativa soma criatividade e compromisso de vários Kariri-Xocó e contribuições de algumas pessoas aliadas como: Elizabete Costa Suzart mestranda da Universidade Estadual da Bahia- UNEB – CAMPUS II; o analista de sistemas e desenhador gráfico Helder Câmara Junior e o empreendedor e comunicador social Sebastián Gerlic, ambos ligados a ONG Thydêwá; e as pesquisadoras: Dra. Diane Nelson e Dra. Thea Pitman, ambas da Universidade de Leeds (Reino Unido). Os trabalhos se sustentam pelos esforços individuais e coletivos de indígenas e aliados, com recursos vindos de parcerias e apoiadores de projetos sociais e filantrópicos.